terça-feira, 14 de junho de 2011

Gregório de Matos - Poesia Filosófica

                                                      Análise Estrutural
 Gicelda Corrêa
(Acadêmica do Curso de Letras – ULBRA)

                  Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
                  Depois da Luz se segue a noite escura,
                  Em tristes sombras morre a formosura, 
                  Em contínuas tristezas a alegria.

                  Porém se acaba o Sol, por que nascia?
                  Se formosa a Luz é, por que não dura?
                  Como a beleza assim se transfigura?
                  Como o gosto da pena assim se fia?

                  Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
                  Na formosura não se dê constância,
                  E na alegria sinta-se tristeza.

                  Começa o mundo enfim pela ignorância,
                  E tem qualquer dos bens por natureza
                  A firmeza somente na inconstância.

                                                                  
Gregório de Matos 

                     ESQUEMA DE RIMAS 
   
                Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, (A)
                Depois da Luz se segue a noite escura,     (B)        rimas
                Em tristes sombras morre a formosura,     (B)    
intercaladas
                Em contínuas tristezas a alegria.              (A)

                Porém se acaba o Sol, por que nascia?      (A)
                Se formosa a Luz é, por que não dura?     (B)
                Como a beleza assim se transfigura?        (B)
                Como o gosto da pena assim se fia?          (A)

                Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,      (C)
                Na formosura não se dê constância,         (D)
                E na alegria sinta-se tristeza.                   (C)

                Começa o mundo enfim pela ignorância,    (D)
                E tem qualquer dos bens por natureza      (C)
                A firmeza somente na inconstância.          (D)



ESCANSÃO

    Nas/ce o /Sol, /e/ não/ du/ra/ mais/ que um/ di*/a,

De/pois/ da/ Luz/ se/ se/gue a/ noi/te es/cu*/r
Em/ con//nuas/ tris/te/zas/ a a/le/gri*/a.

 Em/ tris/tes/ som/bras/ mor/re a/ for/mo/su*/ra,

                                             
RIMAS QUANTO AO VOCÁBULO


    Porém se acaba o Sol, por que nascia? (A) 


    Se formosa a Luz é, por que não dura? (B)

    Como a beleza assim se transfigura?    (B)
                                                                                                                                                  
    Como o gosto da pena assim se fia?      (A) 
                                                       (Rima Pobre)

       Análise Temática
        
        *   Efemeridade do tempo: o poema problematiza a questão da  efemeridade da vida.  
      Ex.: “Porém se acaba o Sol, por que nascia? 
             Se formosa a Luz é, por que não dura?”

        *   Pessimista: sentindo o desengano do mundo – provocado pela consciência do efêmero - o eu lírico,          indaga-se sobre o sofrimento que se prolonga e a alegria que, tão rápido, termina.
      Ex.: “Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,”
             “[...]e não dura mais que um dia”.

                 Jogos de antíteses:
         Ex.: “A firmeza somente na      inconstância...”; “E na alegria sinta-se a tristeza”.
                            ò
        *  O confronto de ideias revela o pessimismo do homem barroco, ao acreditar não haver jeito para o mundo. 
        *  O uso destas antíteses reflete o estado contraditório da condição humana à luz da temática barroca.
     * A dualidade antitética barroca remete à uma antítese maior: à própria reflexão existencial: vida/ morte.  


         Questão PEIES 2007
             A carta de Marco Bonfim afirma que estamos vivendo uma crise ética na sociedade brasileira. Gregório de Matos já notava uma crise ética no século XVII, como se comprova nos seguintes versos:
                             Que falta nesta cidade? Verdade.
                             Que mais por sua desonra? Honra.
                             Falta mais que se lhe ponha? Vergonha.
                             O demo a viver se exponha,
                             Por mais que a fama a exalta
                             Numa cidade onde falta
                             Verdade, honra, vergonha.
       É possível identificar, nos versos apresentados:
 I.    O caráter de jogo verbal, próprio do estilo barroco.
 II. Uma crítica, em tom de sátira,  do perfil moral da cidade da Bahia.
 III. Um aspecto lírico e pedagógico que sustenta a crítica do poeta. 
       Está (ão) correta (s): 
(a)apenas I.
(b)apenas I e II.
(c)apenas I e III.
(d)apenas II.
(e)apenas II e III.

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