terça-feira, 14 de junho de 2011

Gregório de Matos - Poesia Amorosa

                                                           ANÁLISE ESTRUTURAL

                                                                                     Cristina Dorneles


                                              (acadêmica do Curso de Letras-ULBRA)



         Ardor em coração firme nascido!
         Pranto por belos olhos derramado!
Incêndio em mares de água disfarçado!
Rio de neve em fogo convertido!

Tu, que um peito abrasas escondido,
Tu, que em um rosto corres desatado,
Quando fogo em cristais aprisionado,
Quando cristal em chamas derretido.

Se és fogo como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai! que andou Amor em ti prudente.

Pois para temperar a tirania,
Como quis, que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu, parecesse a chama fria.
                                                (Gregório de Matos)
  ESQUEMA DE RIMAS 

         Ardor em coração firme nascido!           ( A)
Pranto por belos olhos derramado!          ( B)
Incêndio em mares de água disfarçado!   (B)
Rio de neve em fogo convertido!              ( A)

Tu, que um peito abrasas escondido,       ( A)
Tu, que em um rosto corres desatado,     ( B)
Quando fogo em cristais aprisionado,      ( B)
Quando cristal em chamas derretido.      (A)

Se és fogo como passas brandamente?    ( C)
Se és neve, como queimas com porfia?     ( D)
Mas ai! que andou Amor em ti prudente.   ( C)

Pois para temperar a tirania,                    ( D)
Como quis, que aqui fosse a neve ardente, ( C)
Permitiu, parecesse a chama fria.              ( D)
                                                         Rimas intercalas, interpoladas ou opostas 
            •ESCANSÃO

Ar/dor/ em/ co/
ra/ção/ fir/me/ nas/ci*/do!
Pran/to/ por/ be/los/ o/lhos/ der/ra/ma*/do!
In/cên/dio em/ ma/res/ de á/gua/dis/far/ça*/do!
        Ri/o/ de/ ne/ve em/ fo/go/ con/ver/ti*/do.
 Rimas quanto ao vocábulo
Tu, que um peito abrasas escondido,     ( 1) adjetivo
Tu, que em um rosto corres desatado , ( 2) adjetivo
Quando fogo em cristais aprisionado, (2)adjetivo
Quando cristal em chamas derretido  . ( 1)adjetivo
  
ANÁLISE TEMÁTICA
Soneto lírico-amoroso.
  " O eu lírico revela quão difícil é o sentimento amor. Ex.: “Tu que peito abrasas escondido,/Tu, que em um rosto corres desatado,”
  " Substantivos absolutos que revelam a intensidade do amor em todo o texto.
   Ex.: “Mas ai! Que andou Amor em ti prudente.
   " Figuras de linguagem:
  Antítese.
Ex.:   Rio de neve em fogo convertido! “ e”Como quis, que aqui fosse a neve ardente,/Permitiu, parecesse a chama fria. “
    Hipérbole ex: “Incêndio em mares de água disfarçado
(UFSM-2011)O estilo cultista também exige exercício mental para a compreensão do texto, como neste soneto de Gregório de Matos dedicado à sua futura esposa, Maria dos Povos:
 Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo claramente
Na vossa ardente vista o sol ardente,
E na rosada face a aurora fria:
Enquanto pois produz, enquanto cria
Essa esfera gentil, mina excelente
No cabelo o metal mais reluzente,
E na boca a mais fina pedraria:
Gozai, gozai da flor da formosura,
Antes que o frio da madura idade
Tronco deixe despido o que é verdura.
Que passado o zênite* da mocidade,
Sem a noite encontrar da sepultura
É cada dia ocaso da beldade. Esse estilo retorcido manifesta-se no uso abusivo de _________ em todas as estrofes; no desequilíbrio e na tensão das
antíteses presentes nas estrofes ________ e no preciosismo das metáforas como ocorre em "esfera gentil, mina excelente",
referindo-se ___________, e em "a mais fina pedraria", significando __________ .

Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas.
a)hipérboles - 1 e 2 - ao sol ardente - a fala de Maria
b)hipérbatos - 2 e 4 - ao rosto de Maria - o sorriso de Maria
c)hipérboles - 1 e 3 - ao olhar de Maria - os diamantes da região
d)hipérbatos - 1 e 4 - ao astro solar - os dentes de Maria
e)hipérboles - 3 e 4 - às minas da região - as joias de Maria

Gregório de Matos - Poesia Filosófica

                                                      Análise Estrutural
 Gicelda Corrêa
(Acadêmica do Curso de Letras – ULBRA)

                  Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
                  Depois da Luz se segue a noite escura,
                  Em tristes sombras morre a formosura, 
                  Em contínuas tristezas a alegria.

                  Porém se acaba o Sol, por que nascia?
                  Se formosa a Luz é, por que não dura?
                  Como a beleza assim se transfigura?
                  Como o gosto da pena assim se fia?

                  Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
                  Na formosura não se dê constância,
                  E na alegria sinta-se tristeza.

                  Começa o mundo enfim pela ignorância,
                  E tem qualquer dos bens por natureza
                  A firmeza somente na inconstância.

                                                                  
Gregório de Matos 

                     ESQUEMA DE RIMAS 
   
                Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, (A)
                Depois da Luz se segue a noite escura,     (B)        rimas
                Em tristes sombras morre a formosura,     (B)    
intercaladas
                Em contínuas tristezas a alegria.              (A)

                Porém se acaba o Sol, por que nascia?      (A)
                Se formosa a Luz é, por que não dura?     (B)
                Como a beleza assim se transfigura?        (B)
                Como o gosto da pena assim se fia?          (A)

                Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,      (C)
                Na formosura não se dê constância,         (D)
                E na alegria sinta-se tristeza.                   (C)

                Começa o mundo enfim pela ignorância,    (D)
                E tem qualquer dos bens por natureza      (C)
                A firmeza somente na inconstância.          (D)



ESCANSÃO

    Nas/ce o /Sol, /e/ não/ du/ra/ mais/ que um/ di*/a,

De/pois/ da/ Luz/ se/ se/gue a/ noi/te es/cu*/r
Em/ con//nuas/ tris/te/zas/ a a/le/gri*/a.

 Em/ tris/tes/ som/bras/ mor/re a/ for/mo/su*/ra,

                                             
RIMAS QUANTO AO VOCÁBULO


    Porém se acaba o Sol, por que nascia? (A) 


    Se formosa a Luz é, por que não dura? (B)

    Como a beleza assim se transfigura?    (B)
                                                                                                                                                  
    Como o gosto da pena assim se fia?      (A) 
                                                       (Rima Pobre)

       Análise Temática
        
        *   Efemeridade do tempo: o poema problematiza a questão da  efemeridade da vida.  
      Ex.: “Porém se acaba o Sol, por que nascia? 
             Se formosa a Luz é, por que não dura?”

        *   Pessimista: sentindo o desengano do mundo – provocado pela consciência do efêmero - o eu lírico,          indaga-se sobre o sofrimento que se prolonga e a alegria que, tão rápido, termina.
      Ex.: “Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,”
             “[...]e não dura mais que um dia”.

                 Jogos de antíteses:
         Ex.: “A firmeza somente na      inconstância...”; “E na alegria sinta-se a tristeza”.
                            ò
        *  O confronto de ideias revela o pessimismo do homem barroco, ao acreditar não haver jeito para o mundo. 
        *  O uso destas antíteses reflete o estado contraditório da condição humana à luz da temática barroca.
     * A dualidade antitética barroca remete à uma antítese maior: à própria reflexão existencial: vida/ morte.  


         Questão PEIES 2007
             A carta de Marco Bonfim afirma que estamos vivendo uma crise ética na sociedade brasileira. Gregório de Matos já notava uma crise ética no século XVII, como se comprova nos seguintes versos:
                             Que falta nesta cidade? Verdade.
                             Que mais por sua desonra? Honra.
                             Falta mais que se lhe ponha? Vergonha.
                             O demo a viver se exponha,
                             Por mais que a fama a exalta
                             Numa cidade onde falta
                             Verdade, honra, vergonha.
       É possível identificar, nos versos apresentados:
 I.    O caráter de jogo verbal, próprio do estilo barroco.
 II. Uma crítica, em tom de sátira,  do perfil moral da cidade da Bahia.
 III. Um aspecto lírico e pedagógico que sustenta a crítica do poeta. 
       Está (ão) correta (s): 
(a)apenas I.
(b)apenas I e II.
(c)apenas I e III.
(d)apenas II.
(e)apenas II e III.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Curso de Letras-Ulbra Campus Cachoeira do Sul.  Alguns incansáveis guerreiros da arte de decodificar obras e assimilar os fatos cotidianos, nesta foto, com a Mestre Sara Scotta, grande incentivadora, a qual muito se deve, devido ao seu empenho e sua amizade sincera.